terça-feira, 9 de agosto de 2011

O Lixo


Na empresa, os objectos que já ninguém quer vão para ao pé das pastas no chamado “arquivo morto” no – 4, um local deprimente, tipo cemitério da burocracia que tive oportunidade de conhecer uma vez. É incrível como se guardam papéis sem importância, alguns dossiers ainda com lombadas à máquina. O arquivo é uma área esconsa e abafada onde nada se aproveita. Se ardesse dava uma belíssima fogueira (e apanhava os volvos e os Audis dos directores estacionados no -3).
Recentemente aproveitei um módulo de gavetas que tinha esse destino. Tinha pertencido a uma colega com contrato a termo certo que esteve a substituir gravidas – A Lena.
Tive oportunidade de conhecer a sua história. Pessoa lutadora, que persistiu a ventos e tempestades para conseguir que a empresa a integrasse. Fez bem o trabalho dela, lembro-me da esperança com que fazia cada contacto, com a alegria com que vinha do ginásio à hora de almoço, retemperada e de pensamento positivo. Em 8 meses não teve nada que lhe pudessem apontar. Não foi suficiente o facto de estar quase sozinha no mundo com uma filha, de muitas vezes mostrar uma cansaço e uma tristeza, que nunca era a implorar, mas bem podia ser. Enfim é o que dá não nascer com dois palminhos de cara nem ser filho ou sobrinho de ninguém importante. Um ano antes uma loura de olhos azuis que se tornou mais que filha/protegida de uma directora, ficou… para ela a empresa não estava em crise e provavelmente nunca estará.
 Nas gavetas ficaram algumas coisas. Quando partimos é assim, seja para sair de algum lado, seja para morrer, deixamos coisas para trás; Uns lenços de papel que marcaram os dias mais tristes, bolachas Maria, algumas tralhas de eventos que não quiz… caixas de clipes e agrafos bem arrumadinhos, papéis com notas soltas escritas com a pressa de quem luta e persegue.
Para mim nunca serás lixo, a mim já não me ilude a beleza ou modos de estar. Já palmilhei o suficiente para ver além da capa com que se nasce. E no arquivo morto não há só papeis, há muitas vidas navalhadas, Injustiças e até confissões escondidas entre as pastas e sem absolvição.
No almocinho de despedida que fizeste, disse-te muitas coisas básicas mas acho que não te disse uma coisa fundamental: Tenho a certeza que há sempre um lugar na vida para quem é lutador.

MR

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