sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Mª do Céu do R/C

Há mais de uma semana que ninguém sabe da Mª do Ceu do R/C. Os gatos miam, éstá tudo fechado, arrumado. O condomínio foi posto em dia com a D. Fernanda. Portadas e estores fechados. E a dúvida de onde teria ido, ela que nunca saía.

Para mim deixou um rasto a liberdade e é claro que se foi embora desta cidade louca. Conhecia a sua história. Falava de Trás-os-Montes com muito saudosismo. Como ela dizia “Era da terra onde o céu pegava com o chão”, onde o verde intoxicava e onde o R/C era uma porta de entrada e saída para a vida, não para este caixão.

Não fazia parte dos gritos desta vizinhança poluída, destes muros cinzentos que a emparedavam há mais de 15 anos. Deste R/C cinzento, cheio de molas caídas, desejos perdidos. Deste prédio vertiginoso para onde o marido a tinha levado quando casou, cheia de esperanças de um amor que nunca existiu.


Para mim, foi isso mesmo; Apanhou boleia da indemnização da empresa onde esteve 25 anos. Embalou-se no desgosto do ventre estéril que a condenou a apanhar babetes caídos dos estendais alheios toda a vida. Embalou-se até, talvez, no impulso do coração que ainda batia pelo namorado de infância, e partiu.

Consigo vê-la a sorrir. Imagino que apanhou balanço nas cordas da roupa, voou por este rio acima por montes e montanhas até à liberdade. Até aos braços do jovem de 18 anos que a deixou um dia cheia de sonhos. Consigo vê-la a tocar as espigas, a deitar-se naquele verde, como na cama. Até logo Mª do céu, (se não a vir talvez seja bom sinal).

MR
19-09-2011

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